Toda a nossa rotina é um convite à exteriorização. A gente abre os olhos ao acordar e lá vem o mundo nos seduzindo e nos embriagando com suas cores, sons, formas, texturas, aromas, gostos. Passamos a maior parte do tempo assim, dedicando toda nossa atenção para o mundo externo. Há até quem se dedique a saber mais dos outros do que de si mesmo. O excesso de estÃmulos sensoriais gera vÃcio e sobrecarrega nosso sistema nervoso, mas nem sempre reconhecemos isso como a causa de nosso cansaço mental.
E o que acontece quando fechamos os olhos em meditação? Como reagimos quando a excitação sensorial diminui? Nada em que tocar, nada para degustar, ver, cheirar, ouvir. O contato inicial com a meditação pode ser entediante, pois sem as distrações externas, o corpo começa a reclamar, uma certa inquietação toma conta e o silêncio aborrece. Se estamos viciadas em estÃmulos externos, pouco suportamos o contato com o mundo interno. Mas é exatamente esse encontro com o mundo interior que vai nos permitir saber mais sobre nós mesmas, nos aprofundarmos em nós mesmas. E esse é o encontro mais rico e mais bonito que a gente pode ter. Esse é o encontro promovido pela meditação.
Alguns erroneamente acreditam que meditar é o mesmo que parar de pensar e acabam se frustrando diante da prática. Mas isso é praticamente impossÃvel, pois o pensar é uma função – extraordinária, por sinal – da mente. Em meditação, não paramos de pensar, mas observamos como a mente funciona: suas memórias, fantasias, sensações, racionalizações, vitimizações, justificativas, divagações. Nossa mente é um universo inteiro e, na maior parte do tempo, somos arrastadas por esses conteúdos sem qualquer consciência deles. É na pausa meditativa que a gente percebe a mente também como um objeto que pode ser observado com distanciamento.
Conhecer nossa mente é flertar com liberdade. Liberdade de diminuir o fluxo excessivo quando necessário, liberdade de escolher o que pensar, substituindo censura, depreciação, crÃtica e pessimismo por doses de cooperação, clareza, discernimento, luminosidade, elevação. Poder escolher o que pensar é ter um pouco mais de governabilidade sobre a mente, esse corpo de natureza tão volátil e tão sutil. Mas como qualquer habilidade, ela só se aperfeiçoa com a prática dedicada. A mente pode ser amiga ou inimiga. Cabe a nós escolhermos com que companhia queremos caminhar.