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Yoga e alimentação


Vamos entender aqui yoga como sendo o mesmo que meditação. Então, imaginando alguém sentado em postura meditativa ou praticando posturas de yoga, podemos dizer que essa pessoa está meditando, ou seja, está treinando uma habilidade fundamental no yoga, a habilidade de (se) observar. Mas observar o quê? Depende do que for colocado como foco, que pode ser a respiração, uma sensação física, uma imagem, um som. Até mesmo o fluxo dos pensamentos pode ser objeto de concentração. O exercício da meditação consiste em manter o máximo possível a atenção nesse foco. Se distraiu? Volte para o foco. Sem muito comentário mental, volte. Se distraiu de novo, volte. De modo generoso e gentil, volte quantas vezes durar o tempo de sua meditação. A prática constante vai fazendo com que a gente se distraia menos vezes e/ou permaneça menos tempo distraídas. Essa tomada de consciência que nos faz voltar da distração ocorre num curto período de tempo, mas que vai sendo alargado com a prática. É nesse período alargado que devemos refletir sobre como dar respostas mais positivas ao que nos acontece, respostas filhas da ponderação. De um modo geral, a reatividade não entrou no campo da reflexão.


Como levar essa habilidade para a nossa alimentação? Na maior parte do tempo, nossos hábitos alimentares seguem padrões automáticos e sociais. Comemos nem sempre porque temos fome, mas porque deu a hora, porque "se eu não comer agora, não vou conseguir comer depois", porque "combinamos de ir a tal restaurante" e etc. Fazemos escolhas muitas vezes motivadas pela conveniência da praticidade, do mais rápido para ficar pronto. Por vezes, alimentos nada nutritivos seduzem nosso paladar, fazendo-nos esquecer que há muita sabedoria em transformar o saudável em gostoso. Sem falar na quantidade excessiva de comida, que desconhece os limites físicos do estômago e o faz transbordar em azia, queimação e gases com horas e horas de digestão. Um último aspecto não menos importante: onde está a vitalidade do que comemos? Um alimento que veio da terra, recebeu chuva e sol para se desenvolver tem muita vida a oferecer às nossas células. Não podemos esperar isso de uma fatia de peito de peru ou danoninho.


E o yoga? Onde está mesmo? Sabe aquela sensibilização do nosso corpo e da nossa mente que ocorre a cada aula? Ela se amplia, se dilata, se estende para a vida. Perceber a fome real (que é a autorização que nosso corpo nos dá para comer), perceber o limite físico do estômago e parar de comer no momento da saciedade, perceber as sensações de peso/leveza/queimação/empachamento do processo de digestão, perceber quando cedemos para nossas emoções escolherem o que comer… tudo isso é muito, muito sutil. Perceber, perceber, perceber. Só transformamos aquilo que percebemos. Perceber nos dá a liberdade de fazer novas escolhas.

Não há necessidade de dieta, restrição, sofrimento. Comer, na perspectiva do yoga, é se nutrir com energia vital através dos alimentos que vieram da natureza. É criar intimidade com as necessidades do nosso corpo ao mesmo tempo que uma mente mais ponderada faz melhores escolhas para ele. É ficar em paz com as vísceras, comendo apenas o que elas conseguem digerir. É sentir leveza no corpo e na mente. É ofertar amor ao cozinhar para alguém e saber reconhecer valorizar quando cozinham pra você. No universo das experiências sutis, o yoga nos ensina que comer é algo muito sagrado.








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