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Respirar é um detalhe imenso



Nascemos e a primeira coisa que fazemos é tomar um fôlego de ar. Dispensamos os pulmões maternos e seguimos sozinhas com a tarefa de respirar. Nascemos inalando. Na outra ponta da vida acontece o contrário. Antes de morrer, uma última exalação e a vida se esvai. Entre o começo e o fim da vida, há esse hiato preenchido por respirações que sustentam a nossa existência.


Digo que respirar é um detalhe porque, como passamos a maior parte do tempo sem prestarmos atenção, essa atividade parece insignificante, corriqueira, sem grande importância, uma frivolidade. Mas, se dela depende a nossa vida, ela se torna um detalhe imenso e valioso.


E o que torna essa atividade ainda mais valiosa para os praticantes de yoga? É conseguir controlá-la e, com isso, alterar nossos estados mentais. Vou explicar. As emoções influenciam o ritmo respiratório. Quando estamos nervosas, agitadas e ansiosas, nossa respiração se acelera e fica curtinha, superficial. Com esse exemplo, percebemos claramente que a mente influencia diretamente a respiração. Porém o contrário também acontece: respirações mais profundas, lentas e relaxadas nos induzem a um estado mental mais calmo e relaxado também. Daí a importância de se manter atenção à respiração durante toda a prática, principalmente durante os pranayamas (técnicas respiratórias). O objetivo dessas técnicas é ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável por fazer o organismo se acalmar, e assim podemos sair da aula com o corpo relaxado e a mente mais serena e estável. Tudo o que se quer no yoga é alcançar a mente. As posturas não têm um fim em si mesmas, elas são um meio para alcançarmos a mente.


Saímos da aula mais calmas, mas e aí? Nada nos garante a permanência dessa calmaria na vida fora do tapetinho com as suas circunstâncias capazes de nos tirar do sério de novo. Mas é por isso que yoga é prática. Quanto mais praticamos, mais vamos nos impregnando, nos familiarizando, nos tornando íntimas desse lugar de calma dentro de nós. Isso não tem a nada a ver com passividade, com permissividade. O lugar de calma é aquele de onde surge a paciência para lidarmos com pessoas e situações. É aquele que nos freia o tapa que fere, a palavra que magoa, o silêncio que confunde e oprime. Sim, há silêncios que perturbam e ferem os outros. Enfim, o lugar de calma é aquele que nos ensina a esperar, nos ensina que devagar também é tempo. Ouso a dizer então que esse “lugar de calma” não é bem um lugar físico, mas um estado mental o qual chamamos de yoga. Já diziam os mestres que o yoga não é algo que você faz, mas é um estado da mente. Um estado lúcido, claro e relaxado a partir do qual tomamos decisões, cultivamos relações, fazemos escolhas que beneficiam não apenas a nós, mas a todos que convivem conosco. Como bem dizia o professor Hermógenes: “Praticamos yoga não para ficarmos melhores que os outros, mas melhores para os outros.” Respira com calma, e esse detalhe vai fazer toda a diferença.


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